sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Pensar em fim nunca é fácil

O último gole de Yakult, o último minuto da prova de instalações, o último dia de uma viagem, o último beijo, o último dia na sua casa.
Poderia essa casa ser uma casa qualquer, uma kit net, um sobrado, um apartamento. Poderia essa casa ser um palácio, ou ao menos poderia essa casa ser uma casa própria. Mas não, essa casa alugada, de cômodos desproporcionais e de pias baixas me fez refletir sobre o fim.
Não bastaria é claro essa casa existir assim crua pra causar qualquer sentimento de perda. Adiciona-se à casa então móveis velhos e descombinando, geladeiras barulhentas e todo tipo de decoração brega que puder imaginar: bolachas de chopp ocupando uma parede inteira, chapéus de 5 formas e cores diferentes pendurados na parede oposta. Leques, espelhinho redondo sobre a porta e Hello Kit, Shreck, porquinhos cor de rosa e canecas sobre as mesas. Pendurados na suntuosa grade da sala um balão da Goodyear, bolinhas de natal e é claro, cortininha de miçangas, de preferência com tsurus misturados às continhas amarelas e roxas. Para não pensarem que fico triste por pouco, não esqueçam dos arquinhos de antena brilhante perdurados na parede com as criativas bolas em alto relevo.
Bastaria essa casa existir assim pra perder eu horas refletindo e chorando sobre o dilema de ir ou ficar?
Não seria tão difícil ir embora se a citada casa não fosse o que é. E a casa é muito além da cozinha gigante. É a alegria das jantas divididas de dia semana, da berinjela e do pão de queijo dos sábados e os brigadeiros de colher de todos os dias...
O aluguel seria somente um aluguel se não tivesse sido tão difícil encontrar essa casa, arrumar todos aqueles documentos e dividir mês a mês todas as contas em comum. Cada móvel da casa não importa por que ele combina ou descombina. Importa por que é nosso, pq colocamos onde queremos, desarrumamos ou até vendemos se quisermos.
E é assim com cada coisa, tudo faz parte de uma construção. Como é que pode a gente sair de um lugar que construímos com tanta dedicação? Sair e deixar lá todas as fotos, as bolachas nas paredes, os sonhos, as bolinhas...
Como será que funciona o relacionamento ideal? Na base da tolerância, diriam alguns, na base da sinceridade, diriam outros. Tudo começou com a tolerância.
E haja tolerância pra abastecer seis pessoas (mulheres!) durante três, quatro anos... Quantas TPM´s foram vencidas! Quase 300!
Foi uma construção de histórias, tempos à toa, semanas de exame, carnavais, festas, filmes, namorados, ex-namorados, fofocas, família de uma, família da outra, bolos de aniversário e tantas outras coisas.